O engenheiro civil Herzio Geraldo Bottrel Mansur realizou um trabalho detalhado sobre a BR-040, no trecho entre Alphaville e Congonhas, com o objetivo sensibilizar as autoridades públicas sobre a falta de infraestrutura, descuidos e os pontos da via que trazem maior risco para a segurança dos usuários e, também os números de sinistros e mortes ocorridos nos últimos anos.
O engenheiro civil Herzio Geraldo Bottrel Mansur, casado, pai de dois filhos, morador de Belo Horizonte e usuário da BR-040, foi vítima de um acidente, em 2019, envolvendo duas carretas e por sorte não teve nada. Desde então, a falta de segurança na rodovia vem despertando nele uma mudança de atitude. Após buscar dados da via junto ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) verificou que o mesmo não tinha muitas informações. Foi então que se dedicou a pesquisar os números da estrada e, com isso, realizou um minucioso levantamento de dados dos quilômetros 563 ao 617 da rodovia, no trecho entre o bairro Alphaville Lagoa dos Ingleses, em Nova Lima, até a cidade de Conselheiro Lafaiete, considerado um dos mais perigosos da rodovia. A pesquisa levou em consideração o fluxo de veículos e o número de vítimas fatais, número de sinistros e suas características em uma extensão de 54 km. O estudo, realizado durante dois anos – entre os anos de 2020 e 2022 -, mostrou que no trecho foram registrados 272 sinistros, com 53 mortes.
O estudo
O estudo teve por objetivo sensibilizar as autoridades públicas, empresas, sociedade civil, entidades, concessionária e mineradoras sobre a situação da rodovia e apresentar as recomendações técnicas para que providências cabíveis sejam tomadas para promover a melhoria da via e a preservação de vidas de usuários da estrada. A metodologia utilizada para o estudo usou informações de sinistros noticiados pela imprensa, dos compartilhados em redes sociais de grupos de moradores e usuários da via, e, ainda, casos verificados pessoalmente. Em cada sinistro registrado foram observados o km de indicação do fato e local de óbitos, data da ocorrência e tipos de veículos envolvidos.
Já a contagem de fluxo se deu de forma pessoal, em sete pontos escolhidos do trecho e em três momentos distintos, sendo que cada contagem foi realizada durante o período de 10 minutos. As medições do trabalho também registraram os horários dos sinistros, as condições climáticas do momento, veículos que cruzam o ponto de observação e a relação entre carretas de minério e veículos que transpuseram o local.
Os dados levantados mostram números bastante assustadores. No trecho dos 54 km analisados foram registrados 120 sinistros e 25 vítimas fatais (em 2020) e 132 sinistros e 26 vítimas fatais (em 2022). A segunda-feira foi o dia da semana com o maior número de sinistros (49) e vítimas fatais (15). Os locais onde ocorreram mais acidentes, por ordem são: os kms 593, 614, 611, 588 e 565.
Segundo informou o engenheiro Hérzio Geraldo Bottrel Mansur, apesar de todo o trecho observado apresentar alta periculosidade, existem locais que concentram altos índices de acidentes e mortes. Como por exemplo, o decurso entre os km 582 e Km 593 que registrou 88 sinistros, com 9 mortes, e entre os Km 611 e Km 617, onde há interface com a malha viária urbana que apresentou 61 sinistros e 14 mortes. “São dados que mostram um cenário estarrecedor. Essa estrada não foi ajustada para as mudanças socioeconômicas potencializadas pelo seu eixo nas últimas décadas. É uma rodovia hostil, perigosa e letal, com 53 mortes em apenas 54 km, quase uma morte por quilômetro”, declarou.
O engenheiro mostrou nos 54 km do trecho estudado que há apenas um posto da Polícia Rodoviária Federal, uma praça de pedágio, duas passarelas, 26 radares com velocidades diferentes e apenas 6 km com pista duplicada e com barreira física central. Também foi verificada a ausência de balanças, longos trechos sem acostamento, afunilamento de traçados nas pistas para transposição de pontes e viadutos, deficiência e ausência de equipamentos de sinalização, manutenção precária do pavimento e da drenagem, interseção entre as vias e rodovia urbana no mesmo nível e em cruzamento simples, alta utilização da via por parte de diferentes tipos veículos das mineradoras, entre outros.
Participação das carretas de minério
No levantamento, Hérzio Mansur mostrou um ponto relevante de participação das carretas de minério nos acidentes. Segundo ele, dos 272 sinistros apontados, 127, ou seja 46,7%, contaram com a presença deste tipo de veículo. Destes 127, cerca de 28 aconteceram com vítimas fatais, representando 52,8% – mais da metade – de todos os 53 óbitos registrados em toda a planilha. De acordo com o engenheiro, apenas no Km 581, no período das 18h05m às 18h15m, cerca de 114 veículos passaram pelo local, sendo 44 carretas, ou seja, 27,85% dos usuários. “Verifiquei que, independentemente do horário e das condições climáticas, o volume de carretas transportando minério predomina em todo o trecho. Ou seja, para quase três veículos que utilizam a via, uma é carreta de minério”, destacou.
Várias medidas a serem tomadas para a melhoria e segurança
Sensibilizado com o expressivo número de sinistros e vítimas fatais nas estradas e vias urbanas brasileiras, o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) criou no ano passado um grupo de trabalho e de segurança no trânsito para analisar dados e situação de estradas no país inteiro. O Grupo de Trabalho (GT) foi então convidado pela Comissão de Transporte do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura de Minas Gerais (CREA-MG) para uma visita técnica ao trecho, realizada em setembro de 2022. Diante do que foi observado pela equipe, um relatório conclusivo apontou várias medidas a serem tomadas para a melhoria e segurança do trecho da rodovia, com recomendações técnicas para providências cabíveis para promover a melhoria da via e a preservação de vidas de usuários da estrada.
Entre elas estão: que seja adotado o termo sinistro em substituição a “acidente”, uma vez que o mesmo não se liga às consequências de inadequação da via; que para melhor utilização da via que seja criada uma via paralela à BR-040, exclusiva para o transporte de minério, sendo a mesma custeada pelos fornecedores da commodity; que sejam construídas ao longo do trecho saídas de escape em áreas de declive; que sejam construídas faixas marginais de acesso à BR, principalmente, nos espaços com interfaces com malhas urbanas, além de trevos e rotatórias de desnível. O grupo também recomendou a instalação de passarelas e de obstáculos físicos centrais nos 48 km que não possuem o dispositivo, assim como a duplicação de pontes e viadutos que se apresentam com mão simples, entre outros.
Outra medida indicada está o aprimoramento da fiscalização do transporte de carga, com reativação de balanças para verificação não só do excesso de peso, mas também da capacidade máxima de tração dos veículos e sujidade, e até mesmo o estabelecimento de horário de limitação do tráfego de carretas.
Realidade absurda
Para Sandoval de Souza, morador de Congonhas e atuante no Grupo SOS 040, o relatório do engenheiro demonstra com rigor técnico a realidade absurda da rodovia no trecho em questão, que o usuário está submetido.
“É uma rodovia com um projeto antigo para os dias atuais em relação ao traçado, aos acessos e à capacidade de carga no pavimento. Ela é insegura, perigosa, com sucessão de acidentes quase sempre nos mesmos locais. Há um volume alto de tráfego em uma rodovia suja, sem sinalização e com sem nenhuma segurança para o usuário. Vemos na curva da Celinha, km 588, e curva do Pires, km 603,5, a necessidade urgente de área de escape, pois são locais onde a cada 15 dias há um acidente fatal. Quantas vidas serão retiradas para que as autoridades se sensibilizem para essa triste realidade?”, questiona Sandoval.
Reuniões com órgãos públicos já foram agendadas e agora o relatório será entregue ao Ministério Público do Estado de Minas Gerais e ao Ministério Público Federal. A expectativa dos moradores é que haja sensibilização entre os poderes e medidas sejam tomadas urgentemente.
Comments (3)
Omissão total das autoridades locais com o caos instalado nessa Rodovia privatizada. O usuário paga com dinheiro e a sua vida para nela transitar. As Mineradoras não dão qualquer contrapartida para o dano que provocam nessa Rodovia. Omissão total, procrastinação por todo o lado, E ainda disseram que sua privatização resolveria o problema da falta de manutenção e alto índices de acidentes, sobretudo no trecho ou melhor no barreiro existente entre Congonhas e Lafaiete. Fiscalização, esse sim passou a ser o papel da União inexiste. Um vergonha.
Excelente matéria sobre a rodovia BH congonhas, com constantes acidentes e rodovia precária e sem segurança, alem de caminhões que levam perigo aos pequenos carros.Boa
reportagem e chamada para as autoridades agirem.
Parabéns pela excelente matéria e um levantamento fantástico das reais condições desta estrada da morte. O Ministério Público tem que agir o mais rápido possível e exigir a saída destas carretas para uma pista alternativa.
Este trecho é uma verdadeira carnificina.
Verdadeiros assassinatos que isto é , famílias perdendo entes queridos e estas empresas não tão nem aí.