Em uma reunião, proposta pela vereadora Viviane Matos, os vereadores, professores, representantes de escolas, integrantes das áreas de segurança discutiram os problemas vivenciados diariamente pelos educadores diante de ameaças com discurso de ódio e fake news em redes sociais.
Uma audiência pública proposta pela vereadora Viviane Matos, realizada no último dia 17 de abril, na Câmara Municipal de Nova Lima, promoveu um amplo debate sobre a segurança na educação. Além de discutir as dificuldades sociais enfrentadas diariamente, as ações de segurança para combater a violência, a reunião também mostrou os desafios e caminhos para ter um espaço de convivência e aprendizagem significativo dentro das escolas. Professores, pais de alunos, vereadores, representantes das polícias civil e militar e secretários mostraram que diante do momento delicado vivido com ameaças com discurso de ódio e fake news em redes sociais, é possível construir um espaço de convivência pacífica, que supere a violência a partir de ações a serem desenvolvidas e que a escola continue sendo o ponto de referência para a sociedade.
O presidente da Casa, vereador Thiago Almeida, abriu os trabalhos falando dos tempos difíceis que precisam ser enfrentados com muita atenção e cautela e que a Câmara de Nova Lima está à disposição para ajudar a todos para que nada impeça alguém de ensinar e aprender. E que a comunidade escolar deve ser o lugar do diálogo, da escuta e da disseminação de aprendizagem, em uma cultura de paz e combate à violência.
A vereadora Viviane Matos, propositora da reunião e também professora da rede de ensino, ressaltou que “é possível contribuir diretamente para a melhoria das políticas educacionais e de segurança pública em Nova Lima. A crise enfrentada tem raízes profundas e que cresce no terreno fértil da internet, ambiente sem controle e fonte de todo tipo de maldade, intolerância e experimentos como a violência. O que acontece dentro da escola é um reflexo do mundo em que estamos.” Segundo ela, não é mais possível negligenciar o papel de cada um, pois os educadores sozinhos não têm instrumentos e estrutura para resolver os problemas que surgem. “Esta é uma dura realidade que se consolidou após a pandemia trazendo os problemas de saúde mental como esgotamento e ansiedade, os surtos de raiva e ódio, que agora são amplamente relatados nas escolas,” destacou.
Violência nas escolas
O secretário de Educação, Pedro Dornas, informou que o município tem desenvolvido ações do projeto organizacional, de proteção, do clima de trabalho e de acolhimento dentro das unidades. E que utiliza uma metodologia de acompanhamento das causas dos problemas surgidos, que é chamado de GIDE Avançada. “Quando voltamos o olhar para a comunidade escolar e entendemos quais são as origens dos problemas das nossas escolas, todos são convidados a pontuar sobre as causas mais importantes das questões internas”, explicou. A GIDE é uma metodologia que unifica e direciona os esforços e recursos da escola em metas e ações para a melhoria de resultados e processos, e é fundamentada no método PDCA (Planejar, Executar, Verificar, Atuar) e no gerenciamento do processo pedagógico a partir de fatos e dados”.
Segundo Pedro Dornas, dados relevantes de um diagnóstico mostram que 31% das pessoas da rede municipal apontam que sofreram algum tipo de violência física nas nossas unidades; 60% apontam que já sofreram agressões verbais nas escolas e 8,20% que já sofreram agressões virtuais nas escolas de Nova Lima. Para Dornas é preciso discutir como fazer uma gestão democrática e participativa dentro das escolas. O Município conta com oito equipes itinerantes da Coordenação Técnico Pedagógica (CTP), com a previsão de contratação para os próximos meses de mais oito terapeutas ocupacionais, oito psicólogos e oito fonoaudiólogos. “Eu não gostaria que a questão fosse tratada como a violência das escolas. A escola ainda é o ponto de luz em meio a uma sociedade doente. Se a gente não entender que o que acontece nas escolas é um reflexo do que acontece na sociedade, a gente não vai avançar nesse debate. E que bom que existem escolas para enfrentar, entender e solucionar esses problemas”, ressaltou.
Recentemente, o prefeito João Marcelo expediu uma portaria estabelecendo uma comissão de gestores municipais para apresentar as ações de continuidade desse trabalho para o desenvolvimento das habilidades socioemocionais e sobretudo na criação de climas organizacionais cada vez mais relevantes para tratar dessas questões.
Participação dos pais
Rafaela Toledo, professora da Escola Josefina Azeredo de Honório Bicalho, representando as escolas estaduais do município, ressaltou a necessidade de reforço nas estruturas das unidades escolares, do patrulhamento nas escolas e da participação dos pais. “Estar aqui discutindo ações que possam contribuir para a segurança nas escolas não é apenas importante, mas histórico. A segurança nas escolas não é competência apenas da gestão das unidades ou das autoridades públicas e militares e sim de toda a comunidade”, disse.
Para Rafaela, “entre as fragilidades encontradas é importante destacar além das necessidades de adequação da estrutura física a participação dos pais ou responsáveis pelos alunos, para o acompanhamento da rotina escolar de cada um deles. É preciso ver o que carregam em suas mochilas, o que têm construído ou compartilhado nas mídias digitais e o monitoramento dos grupos aos quais fazem parte, isso é de extrema importância para atenuar essa situação de violência”, ressaltou.
Equipamento humano
Para a professora Tânia, da Escola George Chalmers, todas essas situações vivenciadas trazem desconforto com uma preocupação cada vez maior. “A presença da família na escola é essencial para combater todos esses sabotadores da infância, que é a exposição às telas o tempo todo, que é a adultização e erotização precoces, a falta de limite e compreensão, o isolamento social. Falar de segurança aqui acho desnecessário à medida que temos pessoas tão competentes e que nos deram apoio tão eficiente. Nós podemos contar com todas as instituições e seus profissionais. Não nos faltou apoio nesse sentido. É preciso preocupar com a base, com esse termômetro que está cada vez mais alto dentro das escolas. Temos que entender que para além dos muros da escola, temos a porta, a rua, a sociedade como um todo, o comércio. Lá é o lugar onde a gente descobre essas situações, onde a gente identifica e apoia. Nós precisamos de equipamento humano e esse deve estar presente com a família, com abrigos, com o Conselho Tutelar e todos os envolvidos”, esclareceu.
Para Izabella Sílvia Santos, psicóloga do Núcleo de Atendimento ao Estudante (NAE), existe uma preocupação muito grande após o isolamento social. “Professores e alunos estão em uma condição mental que precisa ser trabalhada. É preciso pensar na saúde e na rede sócio assistencial, que precisam estar dentro da escola para que não seja preciso apertar o botão do pânico, para que não necessite da presença da GM”, ressaltou.
Ação conjunta da segurança
O secretário de Segurança, Cristiano Gomes, ressaltou que a segurança age quando ocorre um problema, e precisa mitiga-lo e evitar que ele ocorra. “Nova Lima brilhou nesse aspecto, porque foi a única cidade que agiu prontamente, a partir do momento que foram identificadas possíveis ameaças e conseguiu solucioná-las em sua totalidade. Em menos de 48 horas todas as intimidações já estavam solucionadas e os envolvidos já identificados. Tudo isso é fruto de um trabalho de uma atuação conjunta da Secretaria de Segurança, da Guarda Municipal e da Polícia Militar e Polícia Civil. Estamos atentos a todos os fatos, ouvindo as pessoas para trabalhar e buscar sempre o melhor. Não adianta aumentar a estrutura física de muros e outros, mas sim entender de onde vem esse problema e trabalhar com as crianças para atenuar essa questão”, informou.
André Souza, Comandante da Guarda Municipal, falou que a instituição está aberta para conversar com alunos, professores e diretores e funcionários, mostrando que a presença da GM será contínua. Ele informou que irá estabelecer, em caráter experimental e de urgência, uma escala especial de serviço com destinação de parte de pessoal para as escolas para garantir mais segurança e tranquilidade.
Recentemente, dois projetos de lei que tratam da segurança foram aprovados na Câmara Municipal e aguardam a sanção do prefeito: a instalação do botão do pânico dentro das escolas, de autoria do vereador Danúbio; e a instalação de escâner com raio-x para detecção de metais e outros objetos, além do reconhecimento facial, pela vereadora Viviane Matos.
A audiência pública contou com a participação de outros profissionais importantes da educação na cidade.
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