Psicóloga diz que desastres ambientais, violências, adoecimento mental, baixa produtividade são consequências das ações de uma sociedade que valoriza o quantitativo e desvaloriza o emocional.
Desastres ambientais, violência contra mulher e crianças, adoecimento mental, baixa produtividade… “Até quando vamos continuar negando que estamos vivendo um desequilíbrio generalizado?” Questiona a psicóloga e TEDx Speaker Bianca Solléro, que acredita na permanência destes males até a sociedade parar de insistir em chamar de crise o que, na verdade, é resultado das suas ações. “Não é uma fase, é uma consequência. Não há crise ambiental, é o efeito da soberba humana. Assim como não é crise o que vivemos na saúde mental e sim efeito de uma infância desprotegida, malnutrida”, diz. Segue citando a baixa produtividade no mercado de trabalho que, segundo ela, é resultado de um modelo que desconsidera a pausa como retroalimentação da capacidade criativa.
Bianca Solléro avalia que estes desequilíbrios ocorrem por desconexão com a natureza. “Também tem a ver com a criatividade, o poder de tirar ideias do imaginário e abstrato e concretizá-las no campo material.” Para ela, as pessoas deixaram que este grande poder as envaidecesse a tal ponto que esqueceram de quem as herdou. “Seja da natureza, do ponto de vista mais científico, ou de Deus. Independentemente do que você acredita, uma coisa é indubitável, a fonte que deu origem aos seres humanos é criadora e quando nos esquecemos dela é que nos desconectamos desta inteligência que abarca um todo muito maior do que se pode ver.”
Ela afirma que, ao se esquecerem de onde vieram, as pessoas se inebriaram com a capacidade criativa, mas acreditam que ela só pode ser aferida pelo dinheiro. “Desde que a sociedade tem o dinheiro medindo sucesso, produção, a gente passa a funcionar em um modelo mental que supervaloriza o cognitivo, aquilo que é numérico, contábil, concreto.” O efeito colateral disto, na sua análise, é a desvalorização do emocional e do psíquico, já que estes não podem ser quantificados.
“Nosso mundo funciona dentro de uma medida, que diz o que a gente tem que considerar. Assim, desconsideramos alterações que também não conseguem ser aferidas a curto espaço de tempo, como ocorre com o meio ambiente. Demorou muito para a sociedade ver os reflexos dos nossos maus-tratos e, mesmo com relatórios ambientais já existindo há pelo menos meio século, por se tratar de situações a longo prazo, negou isto”, diz Bianca Solléro. Ela vê pouco esforço da sociedade para recuperar a relação com a natureza, o sensível, o que está para além do medido pelo dinheiro.
Esta mesma lógica que cega diante dos cuidados com o meio ambiente, acrescenta a psicóloga, faz com que as pessoas desprezem as emoções e os efeitos começam logo cedo na infância. “Valorizamos o tempo em que as crianças vão ser alfabetizadas e desvalorizamos o que terão para brincar. Focamos mais no que elas vão ser quando crescer do que no que já são.” Estende-se o entendimento para a capacidade produtiva. “Deixamos de entender que para continuar produtivo não são só as habilidades cognitivas que estão em questão, mas as do corpo emocional e psíquico. Se ele não estiver funcionando, se não estivermos atendendo as necessidades emocionais e psíquicas, a capacidade produtiva humana vai colapsar – como já está acontecendo.”
Segundo Bianca Solléro, as empresas focadas em uma produtividade numérica, que esquecem que são organizações feita também e principalmente por pessoas, não vão sobreviver. “Elas precisam lembrar que essa parte não mensurável precisa estar incluída na equação da produtividade. Quando mais negar isso, mais vão ficar desequilibradas, produzir menos e, pior, perpetuar o desequilíbrio em todas as outras esferas. Chega de desequilíbrios.”
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