A natureza pede passagem no Vale do Mutuca

O Projeto do Corredor Ecológico Vale do Mutuca entra na etapa complementar de seu reconhecimento e a PROMUTUCA convoca moradores para reunião pública no próximo dia 29 de junho. O Corredor Ecológico é uma área de grande importância para preservação da biodiversidade das espécies nativas, com natureza exuberante com matas, rios e nascentes.

A Associação de Proteção Ambiental do Vale do Mutuca (Promutuca) realiza uma reunião pública, no próximo dia 29 de junho, às 14 horas, no auditório da Regional Norte da Prefeitura de Nova Lima, no Serena Mall, para dar ciência à sociedade sobre a etapa complementar do reconhecimento do Projeto do Corredor Ecológico (CE) Vale do Mutuca. Localizado em Nova Lima, Minas Gerais, o Corredor Ecológico é uma área de grande importância para preservação da biodiversidade das espécies nativas, com natureza exuberante com matas, rios e nascentes. Com localização privilegiada, próximo à área de condomínios e de adensamento, fauna e flora precisam ser preservadas, para garantir a travessia de animais e qualidade de vida de todos da região.

A área do Corredor Ecológico do Vale do Mutuca encontra-se em um mosaico ambiental com características compostas de remanescentes florestais da Mata Atlântica e Cerrado. O cenário indica a importância da paisagem local para a conservação da biodiversidade com altos índices de endemismo, como a espécie de um pequeno bagre. O Corredor faz conexão com as unidades de conservação Mata da Baleia, RPPN Tumbá, RPPN Vale dos Cristais, Estação Ecológica de Fechos, Serra da Moeda, PE Serra do Rola Moça, Mata do Jambreiro, RPPN Mata Samuel de Paula, Mona Serra do Souza, Mona Morro do Elefante.

Importância e conexão entre bacias

Para o presidente da Promutuca, Pedro Lima, uma importante razão para o corredor é, sem dúvida, a conexão que ele faz entre as bacias do Paraopeba e do Velhas. Há relatos e até mesmo um estudo via monitoramento por alunos de uma universidade sobre a travessia feita por quatis que vêm da mata do Parque das Mangabeiras, chegam ao Mutuca e seguem para o Parque do Rola Moça. “Essa conexão é a mais próxima da Região Metropolitana, liga o Parque Rola Moça na Mata da Baleia, em uma extensão de terra, riachos e área verde, e é usada pelos animais para se locomoverem de um lado para o outro, em espaços com áreas de caça para se alimentarem”, informou Pedro.

Ele relembra que o Vale do Mutuca é o único lugar no mundo que abriga uma espécie endêmica de bagre. Batizado de Trichomycterus novalimensis, a nova espécie foi descoberta na cabeceira do Córrego Mutuca, onde ele ainda é bem preservado pois há águas cristalinas.

Para Pedro Lima, as pessoas precisam se conscientizar mais sobre as áreas de preservação. “Não adianta preservar áreas na frente das casas e subir muros e mais muros no fundo dos terrenos. Além do mais, precisam ter a percepção do mal que fazem ao jogar lixo nas estradas, porque ele irá para dentro do córrego. Ali, o animal se alimenta de restos de comida e passa mal. Também é inadmissível até hoje alguém lançar esgoto ou descarte dentro de rios e riachos”, alertou.

Trabalho de moradores pela criação do Corredor

Para falar do Corredor Ecológico do Vale do Mutuca é necessário evidenciar o trabalho de vários moradores que vêm lutando ao longo de décadas pela instituição e conservação da área de preservação. Dois deles se destacam nesse trabalho, os ex-presidentes da entidade – o engenheiro civil e ex-superintendente do Ibama em Minas Júlio Grillo, e o empresário e engenheiro Flávio Eduardo Krollmann. Grillo começou a sensibilizar o poder público e a sociedade em 1990, quando do processo de criação da APA-Sul. E, desde então, vem trabalhando pela conservação da área do CE, de forma a permitir o fluxo genético da flora e fauna silvestre.

Em 2007, quando entrou em vigor a lei de abrangência do Plano Diretor de Nova Lima, em seu art. 50, preconizava que “O Poder Executivo, com base em estudos técnicos e demarcatórios, criará, através de Lei Complementar, Corredores Municipais de Biodiversidade e Proteção Ambiental, com o objetivo de facilitar o fluxo genético entre populações de seres vivos da natureza, aumentando os índices de longevidade das comunidades biológicas e de suas espécies componentes, de sorte a garantir a manutenção em grande escala dos processos ecológicos e evolutivos em plena proteção de recursos naturais de interesse do ser humano.” Mas, os anos se passaram e não houve iniciativa para se criar tais áreas. Em 2013, uma Ação Civil Pública foi impetrada para que o CE fosse reconhecido, e mais uma vez houve cobrança e interferências junto ao poder público por parte de Júlio Grillo e Flávio Krollmann. Segundo eles, já haviam estudos técnicos e demarcatórios, faltando apenas o acréscimo das regulamentações de uso.

“Este Corredor, conforme centenas de registros de fotos, vídeos e respectivas anotações, abrigam inúmeras espécies da fauna, incluindo grandes mamíferos, répteis, anfíbios, além de espécies endêmicas conforme estudos técnicos e científicos já realizados na região. Além disso, em relação à sua flora, tal região encontra-se em uma zona de rara riqueza caracterizada por área de transição entre a Mata Atlântica e o cerrado com ecossistemas distintos destas duas categorias bem como espécies específicas desta área de transição.”, explicou Flávio Krollmann.

Mutuca: maior diversidade de fauna e flora

Flávio Krollmann lembra que esta é uma região siamesa à Zona Sul de Belo Horizonte, com uma diversidade tão grande e importante. “É preciso mostrar que o Mutuca é uma das regiões com a maior diversidade de fauna e flora; que precisa do Corredor para manter as áreas que unem os fragmentos florestais, a preservação das espécies e do próprio cuidado com os animais, que terão um espaço exclusivo de circulação e sem risco para eles. O corredor da Mutuca se faz presente há décadas. E, devido à construção do Viaduto da Mutuca e consequente proteção do Vale do Córrego, abaixo do mesmo, os animais passaram a utilizar a segurança de atravessar a BR-040 por baixo do viaduto.

Neste caso, vale lembrar que a BR-040 separou duas importantes regiões: A bacia do rio Paraopeba de um lado e a do rio das Velhas do outro. Não precisa nem citar a importância desta passagem por baixo do Viaduto da Mutuca e do Vale do Mutuca para a locomoção e deslocamento das diversas espécies de animais que vivem nestas unidades de proteção. O Corredor da Mutuca é o único corredor da RMBH em um raio de 40Km (A próxima passagem com segurança aos animais será no viaduto das Almas, muito distante destas Unidades!). E seu reconhecimento será o primeiro em uma região metropolitana no Brasil. Um grande exemplo que a cidade e Governo do Estado podem dar ao resto do País”, destacou Flávio Krollmann.

Vale ressaltar também que o próprio Ministério do Meio Ambiente reconheceu os Corredores Ecológicos como prioridade para a preservação do Meio Ambiente, tão importante quanto a criação de Unidades de Conservação. “Sabemos que uma Unidade de Conservação isolada pode sofrer graves consequências. Espécies de animais precisam transitar a fim de buscar alimento e reprodução. E os Corredores têm papel fundamental nisso. Daí a sua importância”, declarou Krollmann.

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