Amazônia: com que idade você descobriu que ela não é o pulmão do mundo?

A Amazônia ocupa cerca de 7% da superfície total do planeta e abriga em torno de 50% de toda a biodiversidade mundial. Seus rios respondem a quase um quinto de toda água doce que deságua nos oceanos e a umidade de parte da Bacia Amazônica atinge e regula o clima de países como a Argentina e Uruguai e de todo o Brasil: são os chamados rios voadores. Também as árvores amazônicas funcionam como uma “esponja”, absorvendo substâncias sob a forma de poeira e partículas, trazidas pelos ventos e pelas chuvas da África e do Atlântico. Além disso, é fundamental para conter o avanço das mudanças climáticas e o aquecimento global, mas os desmatamentos e as queimadas que estão acontecendo lá são preocupantes pois estão causando danos irreversíveis.
O pulmão humano e da maioria dos seres vivos transforma oxigênio em gás carbônico, ao contrário da floresta Amazônica que por meio da fotossíntese de sua vegetação, captura gás carbônico da atmosfera e transforma em oxigênio. Por causa disso, muitos estudiosos acreditaram e disseminaram a ideia de que a Amazônia era o pulmão “invertido” do mundo.

Não se sabe quem utilizou esta expressão pela primeira vez, mas dizer que a Amazônia é o pulmão do mundo significa afirmar que lá é o maior local de produção de oxigênio. Mas como assim? Em seu processo de respiração, as plantas precisam fazer fotossíntese para absorver energia para sua sobrevivência. Essa é forma delas se “alimentarem”. Nesse mecanismo de alimentação dos vegetais é liberado ao ambiente o oxigênio que utilizamos na nossa respiração.

Essa afirmação hoje já não é considerada mais como verdadeira devido ao que realmente acontece nesse ciclo da flora amazônica. Acredita-se que a frase tenha sido criada com um intuito poético para justificar e afirmar a vital importância da floresta para a humanidade.

Por que não ser o pulmão do mundo?

Mas diante de toda essa importância e de todos os benefícios, por que não ser o pulmão do mundo?
Assim como os seres humanos, as plantas precisam do oxigênio para quebrar a molécula de glicose e produzir energia para a manutenção de sua vida. A floresta equatorial da Amazônia é composta por uma densa vegetação e em sua maioria possui árvores muito altas, podendo chegar até 60 metros de altura, com copas largas e preenchidas. Isso significa dizer que as árvores da Amazônia consomem muito oxigênio para manter sua grande estrutura. Elas consomem quase todo o oxigênio emitido durante a fotossíntese no seu próprio processo de respiração. Cientistas já descobriram e demonstraram que a floresta amazônica se encontra no que chamamos de estado de “clímax ecológico”, quando toda a biomassa (matéria viva da região) acaba sendo utilizada por outros organismos para seu metabolismo, produzindo dióxido de carbono.

Sim, a floresta produz uma imensa quantidade de oxigênio mediante a fotossíntese durante o dia. Porém, toda a biodiversidade que vive nessa mesma floresta (vegetais, animais e microrganismos) respira 24 horas por dia, ou seja, praticamente todo o oxigênio que a floresta produz durante o dia acaba sendo utilizado na respiração dos seres vivos que vivem ali mesmo, durante o dia e a noite. É importante salientar que a floresta amazônica constitui um enorme reservatório de carbono (ela absorve e armazena excesso de CO2 nos caules) e, quando queimada, produz e devolve o dióxido de carbono armazenado, aumentando assim o “efeito estufa”. Sendo assim, ela não é “pulmão do mundo” no sentido comum do termo. O erro já começa no próprio apelido que se deu, pois, um pulmão não supre o oxigênio, ele tira. Mesmo assim, a floresta está em um ciclo de equilíbrio. Todo o gás carbônico capturado por meio da fotossíntese é liberado novamente à atmosfera quando sua própria biodiversidade respira e quando as árvores morrem e entram em decomposição.

Quem são os verdadeiros pulmões do mundo?

Mas se não é a Amazônia, quem são os verdadeiros pulmões do mundo?
Os oceanos cobrem 70% da superfície da Terra e contém 97% da água do planeta. As primeiras formas de vida se desenvolveram no oceano e ainda é o oceano que permite que a Terra seja habitável devido à sua capacidade reguladora do clima. Sem os oceanos, a temperatura terrestre poderia ultrapassar os 100ºC, o que inviabilizaria a vida no planeta.

De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Florestas, as algas marinhas são responsáveis pela produção de 54% do oxigênio do mundo, e os mares funcionam como reguladores do clima no planeta. As algas são organismos fotossintetizantes (fazem fotossíntese e liberam oxigênio na atmosfera), influenciando diretamente nas mudanças climáticas e funções meteorológicas. Isso sim justifica o título de pulmões do mundo para esses seres. Mas como elas produzem oxigênio? O seu processo de fotossíntese ocorre em três principais etapas: a captura de gás carbônico atmosférico, a renovação de oxigênio atmosférico e a condução do fluxo de matéria e energia nos ecossistemas. Nesse fluxo, elas produzem mais oxigênio para a fotossíntese do que precisam dele na sua própria respiração, e o excesso produzido é liberado no ambiente.

Apesar de haver muitas provas de que a Amazônia não exerce esse papel de pulmão do mundo, é consenso entre os pesquisadores que as extensas áreas de floresta do Norte do Brasil têm grande influência no clima do planeta, na sobrevivência, na manutenção e na vida na Terra. Mesmo não sendo o tal pulmão, ela ainda pode ser considerada outro órgão vital… quem sabe não seria o coração do mundo?

Juliana Mendes Vasconcelos / Bióloga e Colaboradora da Promutuca / www.promutuca.com.br • adm.promutuca@gmail.com

Share this post

Comments (2)

  • Welber Nery Souza Reply

    Interessante como somos iludidos por frases que marcam. Então a amazônia não é o pulmão do mundo.Bom ter esse conhecimento.Parabens à estudiosa Juliana Mendes.Isso é opinião? ou está comprovado cientificamente. Abraço

    12 de julho de 2023 at 10:24
  • Neylor aarao Reply

    Parabéns excelente jornalista

    28 de julho de 2023 at 14:23

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *