Em frente à minha janela há uma árvore bem comum. Árvore, árvore. Sem maiores predicativos. Dessas que não são percebidas por quem passa distraído na rua. Porém, não se enganem: ela nos ensina coisas preciosas. Alguns a conhecem como munguba, castanhola ou castanha-do-maranhão. Muito usada na arborização de Belo Horizonte, a Pachira aquática é uma árvore frondosa. Eu a aprecio muito pela sombra e a vida que traz à minha janela. Os frutos são um lanche disputado pelos passarinhos e micos.
Entretanto, seu dom mais mágico são as flores. Ahhhhhh suas flores… essas sim, chamam atenção. Uma delicada joia, que guarda não só beleza, mas grandes (e quase secretos) ensinamentos. Surgem de repente, em aparições contundentes. Como fogos de artifício (que, em japonês, são chamados de flores de fogo). Quando se vê, estão lá. Majestosas esculturas suspensas. Um buquê colorido de finos estames. Lição 1: a vida é sempre surpreendente.
Comecei a observá-las com a curiosidade de uma investigadora, ou melhor, de uma admiradora. Notei que seu viço era fugaz. Em um dia já mudavam de cor. Elas nascem de um cálice longo. Percebi quando estavam prestes a brotar. Mas eis que, no dia, eu me esquecia de olhar e escapava o esplendor. Me revoltava comigo mesma. Quanto tempo não dedicamos a futilidades ao invés de apreciarmos a beleza? Lição 2: nosso tempo é curto para distrações.
Descobri que são boêmias. Como as borbulhas de uma taça de champanhe, nascem à noite. Fiz vigílias durante várias noites, esperando o parto. Elas brincavam comigo de esconde-esconde. Demorei a perceber o seu tempo. Até que, aos poucos, entendi que cada uma brota de um jeito. Com uma personalidade. No seu momento. Algumas são acrobatas súbitas. Outras, bailarinas lentas. De longe parecem as mesmas. De perto, são muito únicas. Lição 3: cada célula contém toda a diversidade.
Li que em alguns lugares a chamam de árvore do dinheiro. Mas, diante de tantos ensinamentos, eu não tenho dúvida: dinheiro algum vale mais que uma flor.
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