Especialista afirma que ignorar sinais de alerta pode custar caro e ser irreversível.
O Brasil conta com 20,1 milhões de empresas ativas de todos os portes e nos mais variados ramos de atuação, sendo que 368 mil foram criadas somente neste ano e 71,1% delas levaram menos de um dia para ser abertas. Os dados são do Mapa das Empresas, ferramenta do governo federal. No entanto, na maioria das vezes, a facilidade encontrada para iniciar as operações não garante a prosperidade nem longevidade, como apontam estudos do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Muitas empresas sequer ultrapassam os primeiros anos por falta de lucro ou gestão eficiente.
Nas pequenas, médias e grandes empresas, não há apenas uma causa responsável por levar o negócio para o fundo do poço, mas um conjunto de fatores, como explica o professor especialista da Fundação Dom Cabral e sócio da Goose – Consultoria & Treinamentos, Haroldo Márcio. “O primeiro sinal pode ser observado quando a produção é alta, o produto ou serviço continua no mercado, a receita aumenta, mas se percebe que o dinheiro está em falta, inclusive para honrar algumas obrigações. Nesse cenário, mesmo com um alto esforço, as dificuldades refletem no caixa, já que ele é a ponta de toda empresa”, avalia.
Um negócio em dificuldade é percebido quando a empresa está desacreditada, em atraso com o fornecedor, possui uma renegociação sem o devido cumprimento e existe desconfiança do mercado financeiro, diante de obrigações vencidas. Em alguns casos, até os colaboradores ficam desmotivados porque os salários e outros compromissos estão pendentes, como o FGTS em atraso ou INSS não recolhido.
Mas, afinal, quando pedir ajuda? “Essa é uma questão crucial, porque, diversas vezes, a empresa começa a ter um tipo de problema, busca soluções paliativas, resiste em pedir ajuda, mas, no momento em que decidir procurá-la, já não há muito mais o que fazer. Por isso, costumo dizer que esse pedido de auxílio deve ocorrer logo no primeiro sinal”, orienta o especialista.
Correção de rota
A saída passa pela reestruturação da empresa, que representa a correção da rota a ser trilhada. “Para começar, é necessário fazer um amplo diagnóstico e entender a real situação do negócio, como a dívida existente, o que é gerado de caixa e as negociações necessárias a serem feitas”, analisa o sócio da Goose, com sede em Belo Horizonte.
Em seguida, é fundamental compreender como recuperar a credibilidade e construir um plano correto. “Depois que a empresa começa a se reerguer, é necessário pensar a longo prazo. A partir daí, é fundamental monitorar os indicadores e melhorar os processos de governança, para que a empresa consolide esse movimento”, destaca.
Principais desafios
O primeiro fator que tem de ser levado em consideração em um processo de reestruturação é que a empresa só sobrevive se o negócio for viável. Reorganizar passivo, negociar com fornecedores e obter linhas de crédito são passos importantes, contudo, insuficientes, pois é imprescindível sobrar recursos para pagar a operação, que sempre precisa ser viável.
O segundo é o engajamento da empresa, principalmente da alta direção. “Não adianta pregar um discurso de reestruturação, ações de austeridade e a ideia não ser comprada por todos, sobretudo pelo comando. É preciso mudar o perfil (da empresa). Os gastos desnecessários devem ser cotados e as falhas dos setores, corrigidas. Dar o exemplo é de suma importância nesse processo”, destaca o especialista, que também enfatiza a necessidade de a equipe estar aberta a mudanças de paradigmas.
Uma empresa engajada, com sócios conscientes de suas responsabilidades, um direcionamento bem feito e negócio viável permitem a restruturação de qualquer empreendimento. Com o compromisso de todos, as dificuldades podem ser superadas. “Quase toda empresa passa, em algum momento, por uma situação de dificuldade e pode precisar de alguém que tenha um olhar diferente, de fora, sem emoção e com um pensamento mais racional focado na solução do problema. A reestruturação de empresas é uma realidade em todo o mundo”, encerra Haroldo Márcio.
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