De acordo com o que era usualmente estudado, a ecologia tratava dos ecossistemas, sua biofísica e os processos evolutivos não afetados pela influência humana, ou seja, era a ciência que estudava as relações entre os seres vivos entre si e destes com o meio ambiente.
Porém, vários pesquisadores observaram que os sistemas, mesmo equilibrados, podem em certos aspectos estarem sujeitos a distúrbios, principalmente ocasionados por populações humanas. Assim os ecossistemas terrestres passaram a agrupar-se em processos e serem regulados por forças externas e não apenas mecanismos internos.
Surgiu então com isso, uma nova linha de pesquisa que reconheceu o ser humano como componente desse ecossistema: a ecologia urbana, um campo da Ecologia cujo objeto de estudo é a relação entre os habitantes de uma área urbana e suas interações com o meio ambiente. Estuda como as plantas, os animais e as pessoas interagem num determinado meio urbano. Utiliza práticas de campo e conceitos teóricos da Ecologia tradicional, entretanto estabelece uma estreita relação com outras áreas como, Urbanismo, Engenharia, Arquitetura, Geografia, Antropologia, entre outras.
A estrutura e o funcionamento de cada um desses ambientes urbanos envolvem um conjunto de fatores, como as escolhas de cada agente social (famílias, empresas e outras instituições) em seus usos e comportamentos, bem como os agentes físicos (formato do solo local e o clima). Esses componentes determinam os diferentes padrões de desenvolvimento e de uso dos recursos naturais existentes em cada região.
Os ambientes terrestres, de uma forma geral, apresentam distúrbios que podem interromper de forma abrupta a estrutura de um ecossistema, comunidade ou população e alterar o ambiente físico ou a disponibilidade dos recursos. Esses fatores podem ter causas físicas e/ou biológicas e, geralmente, levam à morte ou à redução de uma espécie, que por sua vez pode favorecer outras espécies. Esses incluem fenômenos como tempestades e incêndios florestais. Porém, no ambiente urbano, vários outros distúrbios já vêm sendo estudados por ecologistas, como a remoção superior dos solos para a construção, que pode levar a uma redução da biodiversidade. Além de tudo isto, é importante salientar que essas atividades urbanas afetam os rios, o ar, as florestas e outros remanescentes naturais presentes nas cidades. Assim, os pesquisadores avaliam o impacto do descarte irregular do lixo, da falta de saneamento básico, do desmatamento das áreas verdes, entre outros fatores. É uma área muito importante, pois seus estudos e aplicações colaboram com a melhoria das condições de vida nos centros urbanos, uma vez que busca formas de possibilitar o desenvolvimento sustentável nas cidades.
Coleta e descarte de lixo no Ambiente Urbano
O aumento da quantidade de lixo gerado pela urbanização e crescimento populacional é um dos exemplos de assuntos tratados na ecologia urbana. As pessoas produzem lixo todos os dias com embalagens de comida, produtos, restos de alimentos ou materiais descartáveis.
Existem vários tipos de coletas de lixo, escolhida de acordo com a maneira mais adequada de se recolher cada um. Em relação ao lixo domiciliar e comercial é utilizado a coleta regular. Já para o lixo produzido pelas indústrias, deve-se analisar a natureza tóxica e não-tóxica dos materiais, realizando a coleta industrial por empresas especializadas. O lixo hospitalar requer uma coleta de alto risco, pois contém materiais tóxicos e contaminados. Além disso, antes de ir ao destino final estes materiais devem passar por uma incineração e esterilização. Há também a coleta de altíssimo risco que se faz com o lixo nuclear, realizada pelas próprias usinas com técnicos treinados para isso.
Atualmente várias cidades têm adotado a coleta seletiva de lixo, que separa o material de acordo com a sua categoria (orgânico, plástico, vidro, papel e metal ou apenas descartáveis e não-descartáveis), para a realização de programas de reciclagem. Depois de coletado, o destino final para o lixo geralmente são os aterros sanitários. Outro grande problema urbano são as enchentes, que podem ter causas naturais, mas também são agravadas pelo acúmulo de lixo urbano que é descartado incorretamente. Os lixos entopem bueiros que são importantes para conter a elevação do nível dos rios. Além disso, o lixo é facilmente carregado pelas enxurradas, elevando ainda mais o volume da água e gerando altos riscos para as pessoas, como afogamentos e doenças pela sua contaminação.
Uma alternativa viável para o controle do lixo é a reciclagem. Alguns municípios já adotam programas com este fim, mas ainda precisam ser mais implementados. Consiste em fazer o reaproveito de materiais cotidianos já usados para produzir novos produtos, reduzindo a quantidade de lixo que vai para os aterros, diminuindo danos ambientais, poluição, além de gerar novos empregos e renda.
Saneamento Básico
Quanto mais antropizado é o ambiente, mais lixo é produzido e mais recursos naturais são utilizados. Para uma cidade crescer é necessária uma boa estrutura de saneamento básico, que é um conjunto de procedimentos necessários para garantir e preservar uma boa saúde para a população humana, evitando a proliferação de doenças e preservando o meio ambiente, como tratamento de água e abastecimento de água potável, coleta, canalização e tratamento de esgotos, coleta adequada de lixo e limpeza urbana, descarte e tratamento correto do lixo. Esses procedimentos devem ser acessíveis a todos, mas na maioria das vezes não acontece, trazendo riscos à saúde da população que não recebe esse serviço. Além disso, o solo desses locais fica poluído com os resíduos e a chance da população que ali reside ingerir água ou alimentos contaminados, ou até mesmo se contaminar com o contato da pele com o solo, é grande, ocasionando doenças causadas por protozoários, bactérias, vermes, entre outros parasitas.
Algumas alternativas que a população que carece do saneamento básico adota são as utilizações da fossa séptica e do poço. A fossa séptica tem como função coletar as fezes e dejetos das pias e ralas das casas, em que a parte sólida é conduzida até o fundo e lá se decompõe, a porção líquida se infiltra na terra, penetrando o solo e tornando o local poluído. Já o poço tem como finalidade a coleta de água. Um problema que pode surgir a partir da utilização desses métodos, é escavar o poço próximo a fossas sépticas, uma vez que ocorre grande risco de a água ficar contaminada com os dejetos coletados pela fossa, e assim ocorrer a disseminação das doenças.
Dessa forma, é de fundamental importância levar saneamento básico para todos, de modo que a população possa ter uma qualidade de vida saudável e diminuir a incidência de doenças, contribuindo para o crescimento das cidades sem maiores intercorrências.
Desmatamento e uso exagerado dos recursos naturais
Antes de tudo devemos dizer que a urbanização é o processo em que a população urbana se torna maior que a da zona rural. No Brasil, com o surgimento das indústrias, as pessoas foram saindo das áreas rurais e indo para os centros urbanos devido às maiores oportunidades de emprego, educação e tratamentos médicos. Porém, as cidades não foram planejadas para suportar a grande quantidade de pessoas que se deslocaram das áreas rurais, causando um crescimento desenfreado e desordenado. Com isso, grandes áreas de vegetação foram destruídas para a construção das áreas urbanas, ocasionando um desequilíbrio ambiental que afeta diretamente a comunidade. Além disso, o desmatamento promove a perda da biodiversidade, reduzindo predadores e desequilibrando as cadeias alimentares.
Portanto, é fundamental a conservação das matas para a proteção da biodiversidade e para o equilíbrio do meio ambiente. Estando essa conservação também, diretamente relacionada com a saúde pública. Dessa forma, a criação de leis ambientais mais rígidas, assim como a participação ativa da população no combate ao desmatamento, são medidas indispensáveis para reverter quadros de desequilíbrio e impactos ambientais.
Não se pode deixar de falar do uso exagerado dos recursos naturais no país, que é um problema ambiental que persiste desde o descobrimento do Brasil. Os portugueses extraíam tão intensamente o pau-brasil, para a construção de móveis e outros objetos, que essa madeira quase foi extinta, já que naquela época não havia preocupação com o reflorestamento dessas árvores. Apenas após o uso desenfreado dos recursos naturais devido à industrialização, foi que a população percebeu os danos ambientais causados e a conservação do meio ambiente começou a ser discutida.
É evidente que o consumo excessivo humano, traz maior utilização dos recursos naturais, como o solo, água, ar, florestas e minerais muito mais do que a natureza é capaz de recuperar, ocasionando um sério problema ambiental. Quando pensamos em cada um desses aspectos, podemos notar algo em comum: os nossos padrões de consumo possuem relação direta com o nosso planeta e nossa relação com o ambiente precisa mudar. Estamos causando um desequilíbrio muito grande o qual a natureza não repara facilmente. As enchentes, a seca, as mudanças climáticas, as ondas de calor, as doenças respiratórias, são todas consequências das atitudes humanas. É de suma importância lembrar que o meio ambiente saudável e sustentável é de responsabilidade de todos nós. E atitudes simples podem fazer uma grande diferença.
Juliana Mendes Vasconcelos / Bióloga e Colaboradora da Promutuca / www.promutuca.com.br • adm.promutuca@gmail.com
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