Haroldo Márcio, sócio da Goose Consultoria e professor da Fundação Dom Cabral (FDC), destaca importância de um planejamento estruturado no processo de transição
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 90% das empresas do país têm perfil familiar. Embora elas empregam cerca de 75% da mão de obra local e representem a maior parte do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, a sucessão ainda é um obstáculo a ser enfrentado. Uma pesquisa do Banco Mundial mostra que apenas três de cada dez dessas empresas familiares conseguem alcançar a terceira geração, sendo que somente metade delas sobrevive, o que corresponde a 15% do total.
Para o sócio da Goose Consultoria e professor da Fundação Dom Cabral (FDC), Haroldo Márcio, além de ter uma gestão profissional, que conte com as melhores práticas de governança corporativa, é primordial preparar a família para assumir o controle em caso de necessidade. “Em muitas situações, quando o proprietário vem a faltar, as empresas até acabam porque os familiares não foram minimamente preparados e, sem os conhecimentos básicos, não têm a menor ideia do que nem de como administrar”, afirma.
Quando há o interesse em participar da gestão do negócio, é aconselhável que os herdeiros sejam levados para a empresa, de modo que passem por seus diversos setores. “É fundamental que eles percorrem essa trilha de conhecimento, fazendo estágios nas diferentes áreas para entender a dinâmica de funcionamento de toda a organização”, orienta o especialista. Dentre os departamentos mais importantes a serem observados, estão os de planejamento, suprimentos, financeiro, recursos humanos, marketing e comercial.
Transição estruturada
Para superar o desafio da sucessão, assim como o apego e centralização excessiva de poder, a sobreposição de papéis e a dificuldade de reconhecer e trabalhar as próprias limitações pessoais de muitos proprietários – que são outros entraves enfrentados –, a Fundação Dom Cabral oferece uma Parceria para o Desenvolvimento de Acionistas e Famílias Empresárias. O PDA é voltado para membros consanguíneos ou escolhidos, que atuem ou não no negócio.
Trata-se de um alinhamento familiar, que possibilita a troca de experiências e contribui ativamente para a evolução e sustentabilidade das empresas, ampliando a visão de futuro dos proprietários e de seus herdeiros. “O engajamento e comprometimento de responsabilidades contribuem para a melhoria na gestão do patrimônio e preservação da harmonia, além de ainda influenciar na estratégia de atuação”, enfatiza o professor.
“É importante estar atento aos principais indicadores, métricas, itens básicos sobre rentabilidade, controle de vendas, gestão de caixa e de fluxo de pagamentos, sem falar em conhecer a carteira de clientes e os direitos de marca e de propriedade”, ressalta o sócio da Goose Consultoria.
Confiabilidade elevada
A elaboração de um processo sucessório passa pela aproximação aos herdeiros de forma alinhada ao legado, aos valores e à visão de futuro da família. Soma-se a isso a visão ampla do contexto, de modo que o atual estágio da governança familiar, corporativa e patrimonial, assim como das ações necessárias para impulsionar essa estruturação, sejam compreendidos.
No entanto, mesmo que não haja uma vocação para o negócio familiar nem interesse direto em administrá-lo ou ainda que não exista o interesse na preparação para assumir o comando, algumas informações são elementares. “Exemplo disso é a família conhecer bem alguns pontos focais da empresa, o que permitirá reduzir os impactos causados pela falta repentina de quem comanda”, explica o consultor. “Dessa forma, em caso de ausência, as novas gerações saberão a quem recorrer para que aquele conhecimento não seja perdido”, complementa.
Se por um lado é legítima a escolha por não exercer o papel de liderança como sucessor do patrimônio, por outro vale ressaltar uma constatação relevante: o nível de confiabilidade das empresas familiares é 12% maior do que a das outras em geral, de acordo com a Eldeman, agência global de comunicação e parceira de companhias e organizações na construção, promoção e proteção de suas marcas e reputações. “O dado é relevante, uma vez que níveis mais altos de confiança podem levar a um melhor desempenho e, consequentemente, maior lucratividade”, encerra Haroldo.
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