Empresas ligam alerta diante da crise no varejo brasileiro

O professor especialista da Fundação Dom Cabral e sócio da Goose – Consultoria & Treinamentos, Haroldo Márcio, analisa o atual cenário e aponta a importância de adaptação rápida ao e-commerce, cada vez mais em alta.

Em meio a um contexto de juros altos, baixo crescimento econômico do Brasil e expansão do e-commerce (comércio eletrônico), empresas varejistas, como Tok&Stok, Marisa, e Via Varejo – dona das Casas Bahia e da antiga Ponto Frio – têm encontrado dificuldades para honrar todos seus compromissos e manter suas lojas abertas, configurando um cenário de crise no setor. A quebra da Americanas, motivada pelo escândalo contábil em que R$ 20 bilhões não foram registrados como dívidas no seu balanço, já tinha colocado todos os holofotes sobre o ramo. Para se ter um exemplo, apenas em fevereiro de 2023, as vendas em todo o país caíram 7,6% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados do Índice de Atividade Econômica Stone Varejo, que analisa indicadores da área.

De acordo com o professor especialista da Fundação Dom Cabral e sócio da Goose – Consultoria & Treinamentos, Haroldo Márcio, o caso da Americanas provocou impactos diretos em muitas outras instituições. “De fato, essa fraude contábil mascarou o resultado da operação, levando analistas e investidores do mercado a acreditarem que a empresa estava obtendo resultados expressivos, mas que não eram condizentes com a realidade. Com isso, muitas companhias passaram a ter sua cultura de integridade questionada”, avalia. Neste contexto, vários negócios deixaram de existir por não receberem seus devidos valores, sem falar nos fornecedores que ficaram prejudicados e nos milhares de trabalhadores que perderam seus empregos.

No entanto, a crise do varejo vai muito além do caso da Americanas. “Parte desse impacto que o setor como um todo está sofrendo também é fruto de um cenário pós-pandemia. Antes, o consumidor tinha o hábito de ir até a loja, ver um produto físico, avaliá-lo e, só em seguida, fazer a compra. Como as pessoas ficaram um bom tempo reclusas, devido às medidas de enfrentamento à Covid-19, esse comportamento mudou”, explica. “Elas entenderam que é possível fazer isso de uma maneira diferente, sem precisar sair de casa, economizando tempo e dinheiro”, completa o especialista.

Desafios e reestruturações

Cada vez mais, o e-commerce tem ganhado espaço entre os consumidores. E, embora ele tenha vindo para ficar, muitas empresas não se adaptaram ao novo modelo de comércio. “Companhias como a Tok&Stok, com produtos extremamente sofisticados, e a Marisa, que precisou dar mais prazo para o cliente adquirir o produto – se transformando, praticamente, em uma financeira – têm encontrado muitos desafios, dadas as dificuldades operacionais e financeiras do negócio. Aquelas que se encontram nessa situação vão precisar passar por um amplo processo de reestruturação”, opina Haroldo.

Hoje em dia, não se pode mais esperar que o cliente vá até a loja. A mudança de comportamento no consumo é perceptível. “É preciso estar atento à dinâmica de mercado, que se altera o tempo todo. O ativismo das novas gerações é outro fator de grande impacto no consumo. Daí a importância de as empresas estarem atentas às práticas de ESG, que tratam da governança ambiental, social e corporativa”, considera o professor.

Soma-se a isso a reconfiguração do cenário com a forte concorrência externa. A crescente presença de varejistas asiáticas chama a atenção e ligam o alerta nas empresas brasileiras. De acordo com um relatório da BTG Pactual, o faturamento da chinesa Schein aumentou 300% no ano passado em relação a 2021, alcançando R$ 8 bilhões. Segundo o levantamento do banco de investimentos, ela teve um crescimento dez vezes superior à média dos empreendimentos nacionais.

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