Você já imaginou os cachorros robôs da Boston Dynamics recolhendo o lixo, ou melhor, resíduos sólidos, na porta da sua casa ou condomínio? Não vai demorar muito para isso acontecer. Porém, até lá, a gestão desses resíduos ainda é um dos maiores desafios que os centros urbanos enfrentam. As smart cities têm implementado soluções bastante, digamos, inteligentes, mesmo que não envolvam diretamente o uso de robôs… ainda.
Esse tema é tão importante, que é objeto de inúmeros estudos científicos que visam inspirar políticas públicas mais eficientes. Tal relevância se dá não somente pelo tamanho do desafio, mas pelo potencial lucrativo que a transformação desses resíduos em ativos econômicos pode gerar, ao mesmo tempo que reduz custos para o município.
O arquiteto e urbanista, Sérgio Myssior, ressalta que “os municípios de maior dinâmica econômica têm maiores recursos financeiros e humanos, o que resulta em um maior volume de resíduos sólidos”. A população de Nova Lima descarta, todos os dias, 114,5 toneladas desses materiais. Isso significa que cada morador gera, diariamente, uma média de 0,33 kg de rejeitos. Os dados são do Sistema Nacional de Informações Sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (SINIR), que calcula também que o custo dessa gestão, por munícipe, chega a R$ 185,96, um total de R$ 17 milhões por ano gastos com limpeza urbana, coleta, varrição e demais serviços.
Um dos principais componentes desse custo é a logística. Estima-se que os custos de transporte incorridos durante a coleta de resíduos representam de 70% a 80% dos custos totais de gerenciamento de resíduos. E conforme tratamos no caso da mobilidade, aqui o uso da inteligência artificial e análise de dados em tempo real pode contribuir significativamente em quatro perspectivas: distância de transporte, custo de transporte, tempo de transporte e eficiência.
Desafio para Nova Lima
Ainda assim, para Sérgio Myssior, trata-se de um desafio que Nova Lima não tem como enfrentar sozinha. O arquiteto e urbanista analisa que o município precisa se integrar a uma rede, por meio da Região Metropolitana, com a formação de consórcios intermunicipais, incluindo a participação da iniciativa privada, transformando essa cadeia em um objeto importante de desenvolvimento econômico. “Se você consegue formar essa parceria entre poder público e iniciativa privada para poder explorar esses nichos de negócio, sobra muito pouco para a destinação e, quanto menor for esse volume, menor é o custo para lidar com os aterros”, conclui Sérgio.
É preciso lembrar, ainda, que o enfrentamento do problema dos resíduos sólidos começa antes mesmo do seu transporte. Na verdade, a gente começa a lidar com ele antes mesmo da sua geração. É o que preconiza o primeiro dos três Rs da pirâmide da sustentabilidade: Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Todos os três dependem de um processo de sensibilização e engajamento da população. Contudo, com um poderoso aparelho que todos carregam em seus bolsos e bolsas, tem sido possível informar, conectar usuários a pontos de reciclagem e fomentar práticas de troca e reutilização de objetos, reduzindo o montante de produtos consumidos e, portanto, reduzindo o volume de descarte.
Se você consegue formar essa parceria entre poder público e iniciativa privada para poder explorar esses nichos de negócio, sobra muito pouco para a destinação e, quanto menor for esse volume, menor é o custo para lidar com os aterros”
Sérgio Myssior, arquiteto e urbanista
Mobilidade Urbana em smart cities
Os gestores das cidades inteligentes mais importantes do mundo, como Londres, entendem que sua gestão e planejamento não podem estar restritos aos limites administrativos do município. A cidade depende do seu entorno, do seu arranjo metropolitano, para se desenvolver de forma eficiente. Ela precisa estar integrada. A integração se traduz por mobilidade urbana.
Professor de Inteligência Artificial (IA) no CEFET-MG, Rogério Gomes, destaca a importância de uma gestão inteligente do transporte público, principalmente no que diz respeito ao movimento pendular dos moradores de cidades vizinhas. “No cenário presente, tendo em vista as tecnologias que já se encontram disponíveis, podemos pensar no uso de análise de dados em tempo real para o roteamento inteligente, levando em consideração inclusive informações de condições climáticas e eventos especiais, gerando alternativas de rotas mais eficientes”, destaca o professor.
A IA pode ainda ser aplicada à gestão e manutenção de infraestruturas urbanas, como semáforos, estacionamentos e sistemas de transporte público. Sensores conectados podem coletar dados em tempo real sobre a demanda, a capacidade e as condições das infraestruturas, permitindo ajustes automáticos e otimização das operações e, ainda, atuando na prevenção de acidentes.
O professor destaca ainda o uso de “aplicativos e sistema de integração e bilhetagem mais inteligentes, que podem ter um efeito considerável na melhoria do tráfego, gerando uma redução de custos para empresas e usuários. Tudo isso resultaria em mais qualidade e eficiência da mobilidade urbana”.
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