Governança e outras práticas ESG favorecem longevidade empresarial

O professor da Fundação Dom Cabral (FDC) e sócio da Goose – Consultoria & Treinamentos, Haroldo Márcio destaca importância do tema, aponta desafios e explica mudanças dos perfis de consumo e trabalho.

Uma missão buscada pelos empreendedores é tornar seus negócios cada vez mais duradouros. A longevidade empresarial está ligada a diversos fatores, dentre eles ao nível de maturidade, à estratégia e também à promoção constante da inovação. O que também pode contribuir para um período mais duradouro são as práticas de ESG (termo em inglês criado para se referir aos valores ambiental, social e de governança), que têm despertado cada vez mais a atenção de instituições de diferentes portes e lugares, diante das constantes transformações que o mundo atravessa.

De acordo com o professor da Fundação Dom Cabral (FDC) e sócio da Goose – Consultoria & Treinamentos, Haroldo Márcio, as empresas que empregam essas boas práticas, mesmo quando não estão obrigadas a isso, estão mais preparadas para enfrentar os novos desafios e terem vida mais longa. “Essas ações contribuem diretamente para que tais negócios se tornem mais capazes de atender às novas demandas de consumo, já que suas estratégias e estrutura organizacional são flexíveis e modernas”, explica. “Não tenho dúvida em afirmar que o futuro será obscuro para as empresas que não se preocupam com a preservação do meio ambiente, o cuidado com as pessoas e a ética de seus processos”, complementa o especialista.

Nesse sentido, planejamento deficiente, despreparo organizacional, gestão insatisfatória e outros problemas externos podem ser decisivos no tempo de vida que um negócio sobrevive no mercado. Em outras palavras: além da performance, os mecanismos, os processos, as regras e a governança são fundamentais para criar uma cultura empresarial sólida. Dessa forma, a instituição, que muitas vezes têm origem familiar e se mantém presa a isso, fica mais propensa ao fracasso.

Taxas de mortalidade empresarial

Uma análise feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que 48,2% das empresas encerram suas atividades no prazo de três anos. Outro estudo, desta vez realizado pelo Sebrae, também atesta que é grande o número de negócios que não conseguem sobreviver. Baseado nos dados da Receita Federal e de pesquisas de campo realizadas entre 2018 e 2021, o levantamento mostrou que a maior taxa de mortalidade empresarial é verificada no comércio (30,2% fecham em 5 anos) e a menor na indústria extrativa (14,3% fecham no mesmo período).
Minas Gerais foi o estado que registrou o maior índice (30%). Na sequência aparecem o Distrito Federal, Rondônia, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, todos com taxa de índice de 29%. De acordo com o mesmo levantamento, Amazonas e Piauí foram os que apresentaram os menores percentuais de mortalidade (22%), seguidos pelo Amapá, Maranhão e Rio de Janeiro (23%).
“Esses dados mostram que a longevidade empresarial é, sem dúvida, um grande desafio enfrentado no país. Para que seu negócio alcance uma vida mais longa, o empreendedor precisa ser capaz de cuidar do seu presente e, mais que isso, estar atento para enxergar o futuro, estruturando e formalizando um planejamento estratégico, com metas claras, bem definidas e que considerem riscos e impactos socioambientais”, ressalta Haroldo.

Novos perfis de consumo e trabalho

Os desafios atuais causam a necessidade de um novo olhar sobre os negócios, e uma visão de longo prazo pede a compreensão e a adequação das organizações a essas novas demandas do consumidor e da sociedade. “As empresas adeptas ao ESG geralmente têm sua estratégia corporativa mais alinhada aos valores do cliente, principalmente, considerando aqueles pertencentes à geração Y, que impulsionará o mercado brasileiros nas próximas décadas devido à mudança demográfica do país”, analisa o especialista.

Se por um lado a forma de consumo tem passado por constantes transformações, por outro o perfil dos profissionais também já não é mais o mesmo. Na publicação do Workmonitor 2023, estudo feito pela consultoria Randstad, considerado um dos maiores sobre o mercado de trabalho em todo o mundo, 48% dos entrevistados brasileiros não aceitariam um emprego em uma organização que não estivesse alinhada aos seus princípios sociais e ambientais. Além disso, 88% concordam que os valores e propósitos do empregador são importantes e metade pediu demissão de um emprego se ele não proporcionasse sentimento de pertencimento. O estudo global ouviu mais de 30 mil trabalhadores de 34 países.

O engajamento dentro de uma empresa está diretamente ligado às condições de trabalho que são oferecidas. Se elas não estão em consonância com suas expectativas, é cada vez mais comum que os colaboradores passem a buscar algo que faça mais sentido para suas vidas”, enfatiza o professor da FDC.

Avanços da agenda ESG

A cada dia, acadêmicos e empresários têm ampliado as discussões sobre o assunto. No ano passado, o 7º Fórum Anual de Governança e Gestão da FDC, em Nova Lima, teve como tema “Longevidade das médias empresas”. Mas, afinal, como adotar práticas para avançar com a agenda ESG?

Para o especialista, atrelar metas aos programas de remuneração variável, orientar a elaboração de relatórios periódicos, eficazes, padronizados e alinhados a metodologias reconhecidas, bem como determinar a auditoria independente, sempre que possível, são práticas de governança importantes nesse processo. “Ter atenção às parcerias institucionais, que podem ser relevantes para a estruturação de negócios, até mesmo junto ao mercado de capitais, e incentivar a participação em iniciativas e pactos empresariais reconhecidos contra corrupção, discriminação de raça, gênero e outros são outros exemplos”, enumera.

Na sua visão, as organizações precisam ter um discurso coerente com as ações, já que não adianta pregar uma coisa e fazer outra ou ainda dar atenção exclusiva a um dos valores e abrir mão dos demais. “A longevidade do negócio está diretamente ligada ao somatório de ações. As práticas ESG vieram para ficar e se tornaram assunto obrigatório na pauta, inclusive, de investidores e órgãos financeiros. É notório que as empresas que as cumprem desfrutam de melhores retornos resultantes de sua imagem e reputação de marca”, encerra Haroldo.

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