Lagoa Seca, onde o mar virou sertão

Quem não se lembra da gaiata canção de Sá e Guarabira, que dizia que “o sertão vai virar mar”, e do “medo que algum dia o mar também vire sertão”?

O homem chega e já desfaz a natureza
Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar
O São Francisco, lá pra cima da Bahia
Diz que dia menos dia vai subir bem devagar
E passo a passo vai cumprindo a profecia
Do beato que dizia que o sertão ia alagar
E o sertão vai virar mar, dá no coração
O medo que algum dia o mar também vire sertão

É verdade que o homem já se desfez muito da natureza. Por interferência sua, grandes terras foram alagadas. Não apenas em represas como a de Sobradinho, título da música, mas também como efeito inconsequente de suas intervenções no ciclo da água.

Mas quem diria, muito antes disso, no tempo em que nem havia homem, a profecia do beato já se cumpria. O sertão virou mar e depois virou sertão, e a prova está bem aqui, debaixo de nossos pés, em pleno bairro do Belvedere, Belo Horizonte.

As rochas que sustentam nossos morros e vales nos contam muitas histórias. Sob a Lagoa Seca, coração verde do bairro, encontram-se dolomitos, rochas formadas em ambiente marinho. Há cerca de 2,4 bilhões de anos, tanto tempo que a gente nem consegue imaginar, o continente foi invadido por um mar. Seres marinhos como corais e ostras depositaram suas conchas de calcário que se acumularam no fundo. Essas conchas, junto com outros precipitados e sedimentos, foram compactados e recobertos, virando pedras. Assim, quando caminhamos em volta da lagoa, na verdade pisamos sobre um universo de conchinhas marinhas!

E depois disso, ainda aconteceu o reverso: o mar virou sertão. O fundo se soergueu, as águas recuaram e o que antes ficava debaixo d´água de repente virou montanha. Só lembrando que ‘de repente ‘, no tempo geológico, significa muitos milhões de anos. A crosta da terra, que hoje nos dá continente, já foi muito afundada, soerguida, amassada e empurrada.

Sim, as forças geológicas são capazes de mover montanhas e oceanos. São tão potentes que fazem sertão virar mar e mar virar sertão.

Mas relembrando a profecia do beato, se o homem chegar e desfizer à natureza a ponto de tudo mudar, poderá chegar a um ponto em que novamente transforme o sertão em mar. Provavelmente, de esgoto, de lama ou inundações.

Cabe a cada um de nós cuidar desse sertão…. e também desse mar!

Gisele Kimura / Membro do conselho deliberativo da Promutuca./ www.promutuca.com.br • adm.promutuca@gmail.com

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Comment (1)

  • Jose Adilson Reply

    Essa texto é uma vergonha para os geólogos . Escrever q o mar de 2,4Ga tinha corais e ostras q deixaram suas conchas. Esses seres vivos só apareceram nos mares no Cambriano, depois de 540Ma. Os primeiros corais só apareceram no Ordoviciano.

    28 de junho de 2023 at 21:43

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