A obra do jornalista e historiador Carlos Pereira é uma grande viagem, às vezes divertida ou trágica, em busca das raízes da música mineira.
O que teriam em comum as travessuras sexuais do rei português d. João V com as freirinhas nos conventos de Lisboa e os bemóis e sustenidos praticados nas cidades coloniais mineiras? Ou a vida da jovem revolucionária de esquerda e futura presidente da República Dilma Roussef com os meninos do Clube da Esquina e sua misteriosa música? As tentativas de respostas a essas e outras questões estão no livro “Música mineira, últimos acordes de uma sinfonia portuguesa”, do jornalista e historiador Carlos Pereira, que foi lançado no último dia 15 de dezembro, no Restaurante Oratório, em Belo Horizonte.
A obra é uma grande viagem, às vezes divertida ou trágica, em busca das raízes da música mineira. Descreve como os valentes marinheiros, aventureiros e nobres lusos, na sua busca por ouro e glória, chegaram às montanhas centrais do futuro Brasil. Ali criaram uma requintada civilização com muita música, escultura, pintura e poesia. E ainda geraram uma misteriosa espécie humana chamada mineiros, os brasileiros mais portugueses que há.
O passeio começa na cidadezinha de Sagres, no Algarve português, e termina no Edifício Levy, no centro de Belo Horizonte. Em Sagres, um príncipe português de coração medieval e cérebro renascentista iniciou a grande epopeia portuguesa de invenção de um novo mundo, e do Brasil inclusive. E, para o pior dos males, criou a escravidão negra em estilo comercial. As marcas da escravização e da sociedade estabelecida a partir dela são tão fortes que influenciam, anos depois, o nascimento do Clube da Esquina, no famoso edifício belorizontino. Sua inquietante música é resultado da cumplicidade fértil dos meninos brancos, moradores de Belo Horizonte, e do músico negro Milton Nascimento, carioca vindo de Três Pontas e futuro líder do importante movimento musical.
Nasce um livro
“Como muitas coisas na minha vida, a ideia de produzir esse livro nasceu numa mesa de bar”, revela o autor Carlos Pereira. “Um grupo de amigos, dentre eles o jornalista Chico Brant, talvez numa euforia etílica, insistia em que eu escrevesse um livro”.
Pereira conta que, a princípio, resistiu à ideia. “Todas os temas que conduzem a humanidade – sexo, riqueza, fome, arte, medo da morte – têm sido analisados, dissecados e expostos há milhares de anos, todos os dias, por craques nesses assuntos, desde Jesus Cristo a Machado de Assis. Não sobrou nada para eu dizer a respeito”. Depois de muita reflexão e debate com os amigos, finalmente foi convencido. “Decidi que escreveria sobre o Clube da Esquina e comecei a pesquisar sobre o assunto. Como as pesquisas nos conduzem e não o contrário, elas me levaram muito mais longe e acabei escrevendo sobre a música mineira em geral”, conclui.
Sobre o autor
Carlos Pereira militou na imprensa mineira desde os anos de chumbo da década de 1960. Começou como foca, como eram chamados os aprendizes de jornalista, no extinto jornal Última Hora, fundado pelo jornalista Samuel Wainer para defender o governo de Getúlio Vargas no 2º período em que esteve no Poder – daquela vez eleito pelo voto democrático.
Pereira foi aprovado em todos os testes pelos exigentes editores Demóstenes Romano, Mário Ribeiro, Wander Piroli e Sebastião Martins. De lá para cá, trabalhou ou colaborou em vários jornais falecidos ou em operação na cidade. É licenciado em História pela Finom e musicólotra assumido. E nessa condição navega por todos os campos, dos refinados – como os percorridos por Debussy – aos envolventes acordes do pagode na laje. E tem relacionamento íntimo com os saxofone e violão.
O livro “Música mineira, últimos acordes de uma sinfonia portuguesa” está à vendas pelo site www.editoraramalhete.com.br/ e em livrarias de Belo Horizonte.
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