O papel do hidrogênio na descarbonização

Você deve ter ouvido falar bastante do hidrogênio ultimamente, como uma das novas e promissoras fontes de energia para o enfrentamento das mudanças climáticas. Porém, o menor (e, de longe, mais abundante) elemento químico do universo já é nosso velho conhecido: quem nunca ouviu falar da clássica fórmula química H2O? Pois é exatamente da água que vem o –agora em cores– hidrogênio verde. Vale contar que ele não é verde. Em condições ambientes o hidrogênio (H2) é um gás sem cor e sem cheiro, mas com um enorme potencial para nos ajudar a viver tranquilos mais alguns milênios no planeta Terra.

O hidrogênio é uma das apostas globais para substituir os combustíveis fósseis em vários setores da nossa sociedade como o de energia, a indústria e o transporte. As diversas cores que têm sido atribuídas ao elemento (cinza, azul, branco, marrom, etc.) visam identificar a sua origem e os níveis de emissões potencialmente associados à sua produção. O hidrogênio atualmente produzido por meio de combustíveis fósseis, por exemplo, recebe a cor cinza e emite CO2 em seu processo de produção, o que não é desejável no processo global de descarbonização. Já a obtenção de hidrogênio a partir da água utilizando energia elétrica de fontes renováveis, como a eólica e a solar fotovoltaica, permite obter hidrogênio com baixas emissões de carbono em seu ciclo. É daí que vem sua classificação como “verde”.

Substituir o hidrogênio de fonte fóssil
Curioso é que grande parte do uso do hidrogênio no planeta atualmente é justamente para a produção de fertilizantes. No Brasil, temos uma grande oportunidade de substituir o hidrogênio de fonte fóssil por um hidrogênio limpo que ajudaria, por exemplo, um dos maiores geradores de PIB e de CO2 do país, a agricultura, a reduzir suas emissões de carbono, fazendo com que os produtos agrícolas brasileiros assumam um outro patamar no mercado mundial.

Além disso, moléculas obtidas de fontes de baixo carbono, como o hidrogênio, são uma excelente opção de armazenamento energético.

A partir do H2 é possível se obter energia elétrica com grande eficiência. É por isso que se desenvolve seu uso nos transportes, movimentando carros, ônibus e até aviões! A tecnologia já existe e tem sido usada, por exemplo, pela NASA nas espaçonaves, mas precisa de avanços para sua disseminação. Investimento e incentivos são fundamentais, pois o páreo é difícil contra os combustíveis fósseis, que são baratos e bem estabelecidos.

Ações mais enérgicas

Em entrevista recente, o diretor do Programa Europeu de Observação da Terra (Copernicus), quando perguntado sobre o que nós (nós = eu, você, governos, nações…planeta!) devemos fazer para evitar os efeitos potencialmente catastróficos das mudanças climáticas, foi enfático: “devemos fazer o que estamos dizendo para ser feito desde a primeira COP*, em 1995!”.

Há quase 30 anos já havia o consenso de que todos os países deveriam tomar ações mais enérgicas para se minimizar os efeitos do aquecimento global. A única maneira comprovada para se atingir esse objetivo é a rápida substituição dos combustíveis fósseis. Infelizmente, não há muito a se comemorar. O mais preocupante é que as projeções para os cenários climáticos do planeta feitas há três décadas estão se cumprindo com boa precisão. A ciência tem avisado, e o clima também.

Está mais do que na hora de escutarmos os avisos e entendermos que nossas decisões, hoje, determinarão o futuro de todo o planeta. Como cidadãos, é comum nos sentirmos impotentes diante de tantas mudanças necessárias. Mas, como sociedade, temos nas mãos um grande poder: o de pressionar líderes e empresas a agirem na direção correta, a favor do planeta e da vida.

*Conferência das Partes (COP) para Mudanças Climáticas das Nações Unidas
Gisele Kimura / Membro do conselho deliberativo da Promutuca./ www.promutuca.com.br • adm.promutuca@gmail.com

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