Tenho três sobrinhos pequenos com o mesmo sobrenome japonês que eu: Kimura. Sempre gosto de lembrá-los do seu significado: Aldeia (mura) da Árvore (ki). A primeira vez que contei isso para meu sobrinho mais velho, descrevendo uma vila no meio da floresta de onde nossos antepassados vieram, ele arregalou os olhinhos mestiços e logo concluiu: então somos protetores da natureza! Bem, não podia garantir nada sobre nossos antecessores, mas para preservar o encanto do momento e alimentar a esperança no futuro, não hesitei: isso mesmo, protetores da natureza! Ele se encheu de orgulho e resoluções. Cada vez que via alguém cortando uma árvore, queria logo saber se aquilo estava certo. Eu mesma tive certa dificuldade para explicar que uma poda podia ser algo bom.
Tentando ser coerente com nossas origens, escolhi algumas ações emblemáticas de cuidado com o meio ambiente para adotarmos no dia a dia. Expliquei que o elevador precisa de energia, e quanto menos o utilizarmos, maior a economia. Eles moram no 5º andar do prédio. Quando estão animados, sobem e descem de escada. Confesso que eu já não chego tanto. Mas antes de chamar um dos três elevadores do edifício, percorro todos eles e pego aquele que está mais perto do meu andar. No início, fazia isso apenas quando as crianças estavam juntas, para dar o exemplo.
Sozinha, pareciam mais longos os 30 passos adicionais do percurso. Para me absolver de qualquer culpa, minha calculadora mental (ou seria meu interno diabinho?) continuava a acrescentar zeros depois da vírgula antes da desprezível porcentagem de energia que eu economizaria com meus 30 passinhos. Ah, o que a gente não faz para justificar a preguiça….
Porém, cada vez que sabotava minha própria lição, me sentia mal. Era como se os sobrinhos estivessem me observando por câmeras ocultas do prédio, testemunhando minha incoerência. Nem era preciso que me desaprovassem – eu mesmo comecei a fazê-lo. Hoje, percorro orgulhosa a volta dos elevadores, mesmo estando só. Meu triunfo é quando encontro um elevador no mesmo andar onde estou. Disfarçadamente, olho em volta para ver se alguém está notando minha relevante contribuição ao mundo. Mas no fundo nem importa que esteja. Me sinto feliz por romper a inércia – ainda que sejam apenas 30 passinhos no plano. Quem sabe o próximo deles não seja subindo as escadas?
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