Serra do Gandarela abriga caverna utilizada como abrigo por preguiças gigantes pré-históricas

Maior paleotoca conhecida em Minas Gerais está preservada sob cuidados da Vale. Recinto é um importante marco histórico da megafauna extinta no Brasil.

Uma caverna, também conhecida como paleotoca, escavada por preguiças-gigantes, há pelo menos 10 mil anos, com aproximadamente seis metros de comprimento e  peso aproximado de quatro toneladas que viveram nas Américas e em nossa região junto com outros animais como Mastodontes, Tigre-dente-de-sabre e Tatus-Gigantes, foi descoberta por pesquisadores em uma área da Vale, próxima ao Parque Nacional da Serra do Gandarela, região do quadrilátero ferrífero (MG), com túneis, salões escavados e ranhuras indicando atividade e marcas compatíveis com os milodontídeos cavadores, ou preguiças-gigantes de dois dedos. A caverna possui comprimento de 340 m de extensão, sendo a maior paleotoca conhecida até o momento em Minas Gerais. Desde a sua descoberta, em 2010, a estrutura segue protegida e foi classificada pelos estudos da Vale como “cavidade de máxima relevância”, seja por atributos físicos ou biológicos, o que, de acordo com a legislação brasileira, já lhe atribui uma condição legal de proteção permanente (Decreto Federal 10.935 de 12 de junho de 2022).

Mamíferos pré-históricos

As preguiças-gigantes ou preguiças terrestres eram um grupo de mamíferos pré-históricos que habitavam as Américas há milhares de anos, viviam em rebanhos e eram herbívoros, ou seja, se alimentavam de folhas, gramíneas, ramos e brotos, e consumiam em média 300 quilos de alimentos por dia. Suas garras eram essenciais na hora
de apanhar o alimento no alto das árvores. O lábio superior e a língua tinham formato próprio para agarrar a vegetação.

“Muito embora as paleotocas venham sendo estudadas há relativamente poucas décadas no Brasil, a importância histórica, ecológica e ambiental é indiscutível. São  ambientes extremamente importantes para a reconstrução da evolução da vida no planeta, mas que atualmente, assim como outras cavernas, também representam um abrigo para espécies raras e endêmicas e que, portanto, necessita de medidas de proteção. Além de ser umas das maiores cavernas do Quadrilátero Ferrífero, até o  momento são conhecidas pelo menos uma dezena de espécies troglóbias (que só ocorrem em ambientes subterrâneos) para esta caverna, dentre as quais podemos  encontrar aranhas, colêmbolos e opiliões”, destaca o pesquisador Rodrigo Lopes Ferreira, da Universidade Federal de Lavras.

A paleotoca, nomeada de AP38, está inserida na formação ferrífera e representa atualmente uma das maiores cavernas as sociadas a este tipo de rocha na região,  fornecendo abrigo, local de reprodução e alimento para espécies que vivem na superfície e em ambientes subterrâneos. A cavidade apresenta uma rede de túneis  interligados, conectados a uma câmara maior. As grandes dimensões, marcas de garras nas paredes e tetos, morfologia e seções da caverna permitem atribuir parte de  sua gênese às preguiças-gigantes de dois dedos, constituindo um importante registro da megafauna extinta de mamíferos na região. “A paleotoca é um importante ecossistema do patrimônio espeleológico brasileiro e precisa ter sua integridade física e ambiental preservadas. Para isso, desde 2010, uma série de estudos e medidas  preventivas foram realizadas pela Vale, sendo proposto o estabelecimento de uma área de proteção ambiental de aproximadamente 40 hectares no seu entorno, que  engloba a Paleotoca e toda sua área de influência conforme determina a legislação vigente”, destaca o espeleólogo da Vale, Robson Zampaulo.

Atualmente, a Vale conta com uma equipe de 25 profissionais dedicados ao tema espeleologia em todo o território nacional. Os especialistas coordenam trabalhos de monitoramento espeleológico, pesquisas científicas e projetos técnicos visando o atendimento à legislação vigente e promovendo operações sustentáveis nas minas onde a Vale atua. Ao longo dos últimos 10 anos, a Vale promoveu a criação de 12 áreas de proteção ambiental com foco em preservação de cavernas, com destaque ao Parque Nacional Campo Ferruginosos, no Pará, o qual detém cerca de 377 cavernas com os estudos de relevância realizados e compõe o maior parque espeleológico  em cavernas ferríferas do mundo.

Descoberta e proteção

A cavidade natural subterrânea (AP38) foi descoberta durante um levantamento ambiental realizado por espeleólogos a serviço da Vale na região. Desde então, a empresa realiza estudos bioespeleológicos, geoespeleológicos, climáticos,  hidrogeológicos, escaneamento a laser, estabilidade geotécnica, delimitação de área de influência, estado de conservação, entre outros. A empresa ainda elaborou um plano de ação para mitigar possíveis impactos na cavidade,  instalação de barreiras físicas e cercamento para limitar o acesso de pessoas não autorizadas, placas de sinalização,  implementação de sismógrafos para monitoramento de vibrações, rondas regulares de segurança e monitoramento  com aparelhos que registram parâmetros sobre as condições microclimáticas da cavidade (temperatura e umidade) e  registro de eventos hídricos e dinâmica das águas.

Sua área de entorno também está protegida de forma a preservar sua estrutura física, biodiversidade, condições  microclimáticas (como temperatura, umidade) e o  aporte de matéria orgânica para no seu interior, sendo esta importante para a manutenção da sua fauna subterrânea que inclui espécies endêmicas. Finalmente, é  importante ressaltar que apesar do seu valor científico e histórico, esta caverna não apresenta potencial turístico para visitação.

Importância do Parque

O Parque Nacional da Serra do Gandarela, criado em 13 de outubro de 2014, constitui-se importante área de conservação ambiental no coração do Quadrilátero  Ferrífero e na porção sul da Cadeia do Espinhaço, a 40 km de BH.

O Parque apresenta um conjunto cênico de exuberantes serras, rios e cachoeiras. A vegetação é composta de um dos mais contínuos fragmentos de Mata Atlântica de  Minas e formações do cerrado, como os campos rupestres ferruginosos e quartizíticos, além de cangas ferruginosas. O Parque se destaca também por representar  significativas áreas de recarga de aquíferos, com grande ocorrência de córregos e rios que drenam para as bacias dos rios Doce e das Velhas, tomando-se estratégico para o abastecimento presente e futuro da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Esse fator também contribui para a ocorrência de dezenas de cachoeiras, que  compõem uma esplêndida beleza cênica e oferecem opções de turismo e lazer gratuitos para a população local.

O Parque do Gandarela cobre a área de oito municípios: Caeté, Itabirito, Mariana, Nova Lima, Ouro Preto, Raposos, Rio Acima e Santa Bárbara, e possui uma área total de 31 270,83 hectares.

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