Testagem para varíola dos macacos ainda é limitada no Brasil

Defesa do Consumidor luta para incluir exames no rol da ANS. Rede de laboratórios tem positividade acima de 20% para a doença. Infectologista reforça a importância dos testes para diagnóstico diferencial da doença, que tem sintomas similares a outras.

O Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) solicitou à ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) que inclua os testes de varíola dos macacos, além do tratamento da doença, no rol de procedimentos das operadoras de saúde. Paralelamente, o Senado já aprovou na última segunda-feira (29), um projeto de lei que obriga os planos de saúde a cobrir tratamentos que não estejam incluídos no rol da ANS. A proposta passou em votação simbólica, sem manifestações contrárias, e segue para a sanção presidencial, após já ter sido aprovada na Câmara. Enquanto isso, um dos principais laboratórios do Brasil apresenta taxa de positividade acima de 20% para a doença.

A infectologista do Grupo Pardini, rede de medicina diagnóstica com atuação em todo o país, alerta que o número de casos vem crescendo aceleradamente no Brasil, a testagem para a doença ainda não é oferecida de forma ampla no país e a vacina não está disponível por aqui. “O aumento dos casos de monkeypox exige diagnóstico mais rápido e preciso. Neste momento, é importante ampliar o acesso ao teste para diagnóstico diferencial de outras doenças. Os sintomas da Monkeypox se assemelham aos de outras doenças que evoluem com lesões vesicopustulosas como varicela-zóster, herpes-zóster, herpes simples, molusco infeccioso e reações alérgicas. E também se confundem com infecções sexualmente transmissíveis (IST´s), especialmente infecção gonocócica, sífilis primária ou secundária, cancróide, linfogranuloma venéreo, granuloma inguinal. Só o exame pode dar o diagnóstico correto”, explica a médica Melissa Valentini.

Segundo dados da rede de laboratórios, da semana epidemiológica 32 (de 07/08 a 13/8) para a semana epidemiológica 33 (de 14/08 a 20/08), houve um aumento na demanda de testes de 80%. Já na semana epidemiológica 34 (21/08 a 27/08), o aumento no número de teste foi de 30% em relação à semana 33; e a positividade foi de 21, 4%. Os dados mostram ainda, aumento de positividade nas regiões Sul e Centro-Oeste; e queda na região Sudeste. Quando analisamos o perfil dos pacientes positivos, a maior incidência, quase 70%, é do público masculino e 50% na faixa etária entre 25 e 39 anos.

A Dra. Melissa Valentini enfatiza que o diagnóstico precoce permite que o paciente siga as recomendações de isolamento. Por isso, o exame deve ser feito o quanto antes. Ela reforça ainda que pessoas com erupção cutânea sugestivas devem ser investigadas e testadas para diagnóstico da monkeypox, mesmo que outros testes para diferentes doenças também sejam positivos. “A infecção pela varíola do macaco associada a outras IST ‘s foi observada em 29% das pessoas testadas, segundo estudo britânico publicado no The New England Journal of Medicine. Sífilis, gonorreia e clamídia foram as doenças mais prevalentes”, esclareceu a infectologista.

De acordo com a médica, além do isolamento por parte do paciente infectado, a testagem possibilita ainda o rastreio de contatos e a notificação às autoridades sanitárias. “A única maneira de conter a transmissão da varíola do macaco é testando e rastreando os contatos próximos. Os infectados precisam se isolar”, alerta.

Tira-dúvidas sobre a doença

Como se contrai a doença?

A transmissão do vírus pode ocorrer de diferentes formas. A principal delas é pelo contato próximo de pessoas infectadas com outras pessoas, através das lesões na pele ou objetos contaminados, como roupas e lençóis. A transmissão pelo ar pode ocorrer quando o contato é muito próximo, prolongado e sem o uso de máscara. Contato físico íntimo como abraços, beijos e contatos sexuais podem transmitir o vírus. Grávidas também podem transmitir o vírus para os fetos.

Através do contato com o macaco é possível contrair?

Os macacos não transmitem a doença. Na África, onde temos casos humanos desde a década de 70, a transmissão ocorre pelo contato com animais silvestres, sendo os roedores os principais responsáveis pela transmissão e não os macacos. O nome monkeypox (varíola dos macacos) é decorrente do fato do vírus ter sido descoberto em 1958, em colônias de macacos mantidos para pesquisa na Dinamarca. Entretanto, estes não são hospedeiros usuais do vírus e não são acometidos pela doença.

Quais são os principais sintomas?

No surto de 2022, a monkeypox tem se apresentado de forma diferente dos casos anteriormente descritos na África. Os principais sintomas são lesões na pele que podem ser vesículas (bolhas), pústulas (bolhas com pus), manchas e crostas, que podem aparecer em qualquer parte do corpo, inclusive nas áreas genitais, com poucas ou muitas lesões. Em alguns casos, pode haver dor e sangramento retal. Podem estar associados também a sintomas gerais como febre, dor de cabeça, presença de ínguas, cansaço e sintomas respiratórios.

A varíola do macaco tem semelhança com outras doenças como a Herpes Zoster, por exemplo? Se sim, com quais, por exemplo? E como diferenciá-la?

A monkeypox evolui com lesões de pele em diferentes estágios: vesículas (bolhas), pústulas (bolha com pus), manchas e crostas (casquinhas). Da mesma forma, muitas outras doenças também evoluem com lesões vesicopustulosas como varicela-zóster, herpes-zóster, herpes simples, molusco infeccioso, infecções na pele e reações alérgicas podem ser confundidas com a doença. Como no surto atual, muitos pacientes têm lesões na região genital e anal, as infecções sexualmente transmissíveis (IST´s), especialmente infecção gonocócica, sífilis primária ou secundária, cancróide, linfogranuloma venéreo, granuloma inguinal. Para diferenciar as doenças, o teste é o melhor caminho.

Quais os sintomas mais comuns, além das feridas?

Além das feridas, pode-se observar sintomas sistêmicos como febre e dor de cabeça, presença de ínguas, cansaço, sintomas respiratórios, edema no pênis, dor de garganta, dor anal com sangramento também foram descritas.

Em caso de suspeita, quais medidas devem ser tomadas?

No caso de suspeita da doença, deve-se procurar assistência médica para que sejam realizados testes laboratoriais para diagnóstico. Além disso, a pessoa deve cobrir as feridas (roupas ou gaze), evitar contato com outras pessoas e usar máscara.

Existe algum método de prevenção?

O principal caminho para a prevenção é o diagnóstico precoce e isolamento de todas as pessoas infectadas para reduzir a transmissão. Acredita-se que as vacinas para varíola sejam eficazes na prevenção da monkeypox, entretanto, como esta doença está erradicada no mundo, a vacinação foi interrompida no final da década de 70. A vacinação após o contato com casos confirmados ou dos grupos de maior risco é também uma importante estratégia.

Depois de quanto tempo da infecção começam a aparecer os primeiros sintomas?

Nos estudos publicados, a média de tempo entre o contato e o início dos sintomas é de 8 dias, mas pode variar de 4 a 21 dias.

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